Mudando a forma como pensamos sobre treinamento

- portuguese cognitive biases jenny lord pedro paulo cunha training Nov 24, 2023

Já falei sobre o viés dos custos irrecuperáveis antes neste blog, mas vi um comentário outro dia que realmente mudou minha perspectiva sobre cursos de treinamento. Foi este:

"Os custos irrecuperáveis são terríveis, mas só mordem se sua mentalidade estiver focada na certificação ou no título que você obterá. Se você direcionar sua mentalidade para 'melhorar suas habilidades', o tempo nunca é perdido, mas bem investido. Você se aproxima do seu objetivo. Se você não conseguir hoje, bem, conseguirá amanhã. Quem se importa com a velocidade quando o caminho é o objetivo?"

Em minha carreira anterior, ensinei diversos esportes ao ar livre. Meu favorito era a canoagem em águas bravas. Não há nada como a emoção de deslizar um pequeno barco sobre água agitada e usar essa água para controlar e dirigir você. Nas minhas viagens regulares noturnas e nos finais de semana ao rio local, costumava remar com diferentes grupos. Um deles era um clube local, que tinha a sorte de ter uma grande e ativa associação com pessoas em todos os níveis. Era uma boa mistura de pessoas mais velhas que praticavam canoagem há décadas, jovens talentosos que estavam rapidamente superando seus treinadores e novatos de todas as idades que só queriam experimentar algo diferente, ao lado de pessoas como eu que tinham alguns anos de experiência e transformaram isso em uma carreira. Algumas pessoas eram treinadores oficiais, mas a maioria eram apenas praticantes entusiastas que queriam se divertir. A configuração era bastante simples: um encontro por semana no rio local de água calma no verão ou na piscina no inverno, seguido de uma viagem de fim de semana para qualquer rio que tivesse água suficiente para ser divertido. Algumas vezes por ano, eram realizadas sessões de treinamento oficiais para trabalhar em direção ao nível em que você estava buscando, se quisesse participar. A palavra importante aqui é "se". Não havia exigência de fazer isso. Ninguém era pressionado a fazer isso, e como o sistema era voluntário e não envolvia dinheiro, ninguém era forçado a fazer treinamentos para os quais não estivesse pronto.

Em minha vida profissional, eu sempre estava mirando no próximo nível para poder ensinar algo novo, mas quando se tratava de remar com o clube, eu descobri que conseguia relaxar e aproveitar, e ainda assim aprendia possivelmente mais lá do que em qualquer curso de treinamento "oficial". Eu suspeito fortemente que isso aconteceu porque eu não estava focada em certificados ou níveis. Minha mentalidade era "estou aqui apenas para me divertir" e, como resultado, parecia que eu estava me superando cada vez mais. Eu não estava tentando fazer as coisas perfeitamente para satisfazer um instrutor, eu estava apenas tentando descer o rio sob controle (talvez com alguns truques pelo caminho!). Eu tinha a oportunidade de remar com pessoas muito mais avançadas do que eu, que encorajavam todos igualmente. E quando você via os melhores canoistas do clube realizando uma manobra incrível e, em seguida, se oferecendo para ajudar você a trabalhar nela (sabendo que levaria meses ou até anos para aprender), isso significava que você podia aprender e melhorar em um ambiente seguro.

Como instrutora de mergulho, ouço as pessoas perguntando "qual é o próximo curso?" o tempo todo. Afinal, foi assim que a indústria foi construída, afinal, mais dinheiro é ganho com cursos do que com mergulhos recreativos (mesmo os guiados). A estrutura em si é quase um esquema de pirâmide, você atrai pessoas na base, as eleva o máximo possível, esperançosamente até o nível de instrutor ou até mesmo diretor de curso, onde elas podem começar a gerar seus próprios produtos, desculpe, alunos. Nos tornamos uma comunidade totalmente focada em metas. A pergunta comum a um mergulhador que você não conheceu antes é "em que nível você está?". Mais frequentemente do que não, o que as pessoas estão realmente perguntando é "qual é a profundidade máxima para a qual podemos ir?" e não "você é competente?".

Que tal mudarmos isso? O próximo nível não importa. Quando eu era mais jovem, era uma ávida escaladora e me esforçava para fazer rotas cada vez mais difíceis. Mas isso não era para obter algum nível de certificação - era para poder fazer rotas mais difíceis! O caminho era o objetivo. Decidi que gostaria muito de fazer algum treinamento de caverna. Quando o fizer, não vou "buscar minha certificação de Introdução à Caverna". Vou buscar treinamento. Para aprender. Para melhorar minhas habilidades e, espero, descobrir o que mais preciso trabalhar para seguir o caminho. Quando eu estava escalando, olhava para uma rota e pensava 'um dia eu vou escalar isso'. Eu sabia que não poderia simplesmente fazer um curso e magicamente isto aconteceria, levaria tempo, prática e esforço. Vou tentar fazer o mesmo com as cavernas.

Aqui está uma ideia: da próxima vez que você fizer um curso de mergulho, em vez de abordá-lo como "Estou concluindo a certificação x", pense nele mais como "Estou aqui para melhorar minhas habilidades e aprender um pouco sobre x, y, z. Se eu conseguir um certificado no final, isso é um bônus."

https://www.thehumandiver.com/blog/escolhas-perdas-garantidas-ou-provaveis

  

Jenny Lord é uma instrutora de mergulho técnico em tempo integral. Antes de se dedicar ao mergulho, ela trabalhou por 10 anos em educação ao ar livre, ensinando escalada, caiaque em águas brancas, canoagem, vela, esqui, cavernas e ciclismo, entre outros esportes. Seu interesse em desenvolvimento de equipes começou com a educação ao ar livre, usando-a como uma ferramenta para ajudar as pessoas a aprenderem mais sobre comunicação, planejamento e trabalho em equipe.

Desde 2009, ela mora em Dahab, no Egito, ensinando mergulho SCUBA. Agora ela é instrutora de mergulho técnico pela TDI, instrutora avançada de trimix, mergulhadora avançada de CCR com misturas e instrutora de CCR com helitrox.

 

Jenny já apoiou vários mergulhos profundos como parte da equipe de mergulho da H2O Divers e trabalha como mergulhadora de segurança na indústria de dublês.

 

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Tradução: Pedro Paulo Cunha