Fatores Humanos no Mergulho para Leigos - Parte 6: Por que as comunicações falham e o que podemos fazer a respeito

- portuguese brazilian communication communications dummies jenny lord pedro paulo cunha May 12, 2023

Este é o registro de uma conversa de rádio entre um navio da Marinha dos EUA e as autoridades canadenses ao largo da costa de Newfoundland.

Americanos: Por favor, desvie seu curso 15 graus para o norte para evitar uma colisão.

Canadenses: Recomendamos que você desvie SEU curso 15 graus para o sul para evitar uma colisão.

Americanos: Aqui é o capitão de um navio da Marinha dos EUA. Repito, desvie SEU curso.

Canadenses: Não. Repetimos, desvie SEU curso.

Americanos: Este é o porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior navio da frota do Atlântico dos Estados Unidos. Estamos acompanhados por três destroyers, três cruzadores e inúmeros navios de apoio. Exijo que VOCÊ mude seu curso 15 graus para o norte, isso é um cinco graus norte, ou medidas de contra-ataque serão tomadas para garantir a segurança deste navio.

Canadenses: Isto é um farol. Sua vez.


Muitos de vocês já ouviram essa história apócrifa (de autoria duvidosa) antes, mas vale a pena relê-la como mais do que apenas uma piada. Afinal, são exatamente conversas como essa que acontecem diariamente e causam problemas.


Por que a comunicação é tão difícil?


Então, por que a comunicação é tão difícil? Existem muitas barreiras no caminho, algumas óbvias, como a linguagem (ou a falta de linguagem debaixo d'água!), distrações e cultura, mas também existem outras como o medo; medo de parecer estúpido ou de ser punido.

Em lugares onde há um grande gradiente de autoridade (o chefe é o chefe e não pode ser questionado!), pode ser muito difícil para qualquer pessoa em uma posição inferior falar, especialmente se o que estão tentando dizer é visto como negativo. É por isso que os instrutores precisam trabalhar ativamente para garantir que os alunos estejam livres para comentar e fazer perguntas sem medo de serem repreendidos ou parecerem estúpidos.


Muitas pessoas já encontraram o instrutor "deus", que ri dos alunos "estúpidos". Como os alunos são aqueles que não sabem o que não sabem, um bom instrutor deve garantir que os alunos estejam à vontade para fazer perguntas que possam parecer estúpidas. Afinal, eles não estariam perguntando se já soubessem a resposta!


Contexto perdido


O outro problema que muitas vezes ocorre é que o que está sendo dito é perfeitamente entendido pela pessoa que o está dizendo, mas o ouvinte pensa que estão falando de outra coisa. Isso acontece com frequência se o contexto estiver faltando. Por exemplo, se alguém chegar atrasado e perder a primeira parte de um briefing, pode estar pensando em um local de mergulho completamente diferente e ficar confuso com as informações que estão sendo passadas. A ironia e o sarcasmo também podem ser facilmente mal interpretados. É realmente importante lembrarmos que a responsabilidade pela comunicação clara vem da pessoa que está transmitindo a mensagem. Uma boa maneira de verificar se nossa comunicação foi clara é questionar as pessoas sobre o que foi dito. Usar perguntas abertas (aquelas que não podem ser respondidas apenas com sim ou não) faz com que as pessoas realmente pensem em suas respostas e mostrará claramente se elas entenderam ou não.


Por fim, quando se trata de comunicação, precisamos lembrar que não é apenas o que dizemos, mas o como dizemos é que é importante. Pense em um sargento treinador militar versus uma professora de jardim de infância, mesmo que eles estivessem dizendo a mesma coisa, eles teriam maneiras muito diferentes de dizê-lo!


Exemplo de má comunicação


Eu pratico kickboxing à noite e um dia liguei para meu treinador para informá-lo que não poderia comparecer à minha aula naquela noite porque estava fazendo um mergulho de descompressão naquela tarde e não teria um intervalo de superfície suficientemente longo antes de fazer exercício. Ele fala inglês básico e eu não falo árabe. Ele também não mergulha. Ele começou a me dizer como eu precisava treinar com frequência para continuar melhorando e que não posso ficar preguiçosa, e só porque eu tinha feito algum trabalho naquele dia, eu tinha que me esforçar e treinar de qualquer maneira. Então, percebi que sua imagem mental e compreensão da situação eram muito diferentes do que eu tinha dito, então cabia a mim explicar a doença descompressiva básica de uma maneira que ele pudesse entender e por que eu não estava sendo preguiçosa!


Para garantir que nossa comunicação seja compreendida, precisamos verificar se todos entenderam o que foi dito e pensar não apenas no que estamos dizendo, mas também em como estamos dizendo. Devemos ter paciência com as pessoas que fazem perguntas "estúpidas", afinal, em algum momento, nós estávamos na mesma posição que elas.

 


 

Jenny é uma instrutora de mergulho técnico em tempo integral. Antes de se dedicar ao mergulho, ela trabalhou por 10 anos em educação ao ar livre, ensinando escalada, caiaque em águas brancas, canoagem, vela, esqui, cavernas e ciclismo, entre outros esportes. Seu interesse em desenvolvimento de equipes começou com a educação ao ar livre, usando-a como uma ferramenta para ajudar as pessoas a aprenderem mais sobre comunicação, planejamento e trabalho em equipe.


Desde 2009, ela mora em Dahab, no Egito, ensinando mergulho SCUBA. Agora ela é instrutora de mergulho técnico pela TDI, instrutora avançada de trimix, mergulhadora avançada de CCR com misturas e instrutora de CCR com helitrox.


Jenny já apoiou vários mergulhos profundos como parte da equipe de mergulho da H2O Divers e trabalha como mergulhadora de segurança na indústria de dublês.
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